quarta-feira, 27 de maio de 2009

Pernilongo gordo do Rio Pinheiros demonstra evolução em tempo real

Uma pesquisa recém-divulgada pela USP (Universidade de São Paulo) e pelo Instituto Butantan, na capital paulista, mostraram que o ambiente poluído do Rio Pinheiros está induzindo evolução em pernilongos num ritmo alucinante.

"Normalmente a gente pensa em evolução como algo que acontece muito lentamente, que não pode ser observado, mas aqui a gente viu que em questão de poucos anos já é possível ver alterações marcantes", disse ao G1 o biólogo Lincoln Suesdek, orientador do estudo que virou a tese de mestrado de Maria Cristina Peruzin, defendida em abril no Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

O mosquito Culex quinquefasciatus banqueteando-se de sangue humano (Foto: Reprodução)

Os pesquisadores compararam os pernilongos (espécie Culex quinquefasciatus) do Rio Pinheiros e do Vale do Ribeira e constataram diferenças marcantes entre as duas populações. Os bichos da capital são mais resistentes a inceticida -- o que, diga-se de passagem, já era de se esperar, dado que são mais expostos a essas substâncias. Mas Suesdek não interpreta isso como um sinal de perigo, e sim como um efeito do bom trabalho do Centro de Controle de Zoonoses da prefeitura, que se esforça para conter a proliferação dos insetos.

As outras mudanças observadas foram aumento de tamanho do bicho (o pernilongo do Rio Pinheiros era, em média, cerca de 20% maior) e mudança no formato das asas.

A questão do tamanho pode ser explicada pela maior presença de "comida de inseto" para as larvas do Culex, na forma da poluição do rio. "Ele se alimenta de matéria orgânica, que vem principalmente do esgoto doméstico", afirma Suesdek.

Já o formato das asas tem uma explicação mais interessante. "Ele é determinado geneticamente", diz o pesquisador, indicando que, para a forma das asas ter mudada, somente com mutações nos genes da criatura -- "evolução em tempo real", como ele descreve.

Impactos

Ninguém deve ficar preocupado por ter pernilongos mais gordos e com asas diferentonas na cidade. "Na picada, um pernilongo maior pode ser mais incômodo, que ele suga mais sangue, mas não há relação estabelecida com perigo maior ou menor de transmitir doenças", afirma o biólogo.

O mais interessante do estudo, na verdade, é a possibilidade de usar a presença dos pernilongos como um indicador. "A presença da larva na água [do rio] pode indicar [o nível] de poluição", explica o cientista.

O estudo já foi submetido a uma revista científica internacional de primeira linha, mas ainda não há previsão de publicação.

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